sexta-feira, 19 de junho de 2009

Historinha de ônibus

Mais um dia comum.
Estava no ônibus em pleno sossego da minha leitura, ouvindo uma musiquinha, que nem me lembro qual era. A certa altura do percurso, em Botafogo, à caminho de Humaitá, percebi uma movimentação diferente. Uma senhora, aparentando uns cinqüenta e poucos anos, entrou no ônibus e reclamava sem parar.
Muito curiosa, retirei os fones do ouvido e comecei a prestar atenção à conversa.
Ela estava reclamando, por que o motorista não parou no local correto do ponto...
- Francamente o senhor deveria ter parado no ponto e não no meio da rua, nos obrigando a fazer fila em plena avenida de grande movimento com esta!
- Mas, senhora, tinha um ônibus parado no ponto e o sinal está fechado.
- Não me importa. O lugar do ônibus parar é no ponto. Se o senhor estivesse no seu lugar, assim que o sinal abrisse poderíamos entrar, no lugar certo e não correndo risco de sermos atropelados por uma moto no meio da rua.
A esta altura, a paciência do motorista já se esgotava...
- A senhora é motorista?
- Não. Sou cidadã, estou pagando (bem no estilo Lady Kate) e tenho o direito de reclamar. E o senhor deveria se educar pra dirigir pela cidade. Estamos no centro cultural do Brasil e o senhor me vem com uma dessas. Tem mais é que ficar quieto e aceitar a minha reclamação já que está errado.
O motorista sem argumentos só resmungava enquanto a passageira, continuava o que agora tinha se tornado um monólogo cheio de autoridade.
- Eu poderia ligar pra sua empresa e fazer uma reclamação do senhor, com o seu nome, placa e número do ônibus...
Mal sabe ela que não adiantaria de nada, ouvi dizer que as empresas não fazem muito ou nada quando seus motoristas são criticados, por causa da falta de candidatos a ocupar esse posto. Verdade ou não, isso explica por que é tão comum vermos alguns deles cometendo tantas barbaridades pela cidade ou nas estradas. E se ainda não perceberam essa história de “como estou dirigindo”, com número pra fazer reclamações é lenda urbana. Arrisque-se e comprove. Mas voltando ao assunto, a mulher foi adiante...
- E outra, eu ligo para os jornais dou o nome da sua empresa e do senhor e tudo mais...
A cobradora interveio em defesa do amigo.
- Aí, a senhora diz também que ele está trabalhando desde as cinco da manhã, sem descanso.
A resposta veio seca e na testa.
- Não tenho nada com isso. Também acordo as cinco. Ou a senhora acha que estou indo fazer as unhas. Também trabalho. E outra. Se não agüenta ser motorista de ônibus, ele que arrume outra profissão.
Concordei com ela. Não tenho nada a ver com a vida do motorista. Que horas ele “pegou” ou vai “largar”. Quero chegar ao meu destino em paz e segurança. Já que se propôs a dirigir um ônibus faça direito ou vá procurar outro ramo. Mesmo assim, tive pena do motorista que só se esqueceu que estava na zona sul e não na Presidente Vargas, onde na ânsia de chegar logo, na correria ou sabe-se lá o que, as pessoas nem ligam e sobem até com o ônibus andando.

Nenhum comentário: